A rotina tranquila de um condomínio de alto padrão no bairro Acupe de Brotas, em Salvador, foi quebrada por uma cena de violência que causou indignação nacional. O porteiro Levinton Freitas dos Santos, de 31 anos, foi brutalmente agredido dentro da guarita por Eric José Silva Martins, morador do residencial e ex-soldado da Polícia Militar da Bahia. O episódio, registrado por câmeras de segurança, viralizou nas redes sociais e reacendeu o debate sobre os limites da autoridade, o assédio moral em condomínios e a vulnerabilidade de profissionais de segurança patrimonial.
A agressão
Segundo relato da vítima, tudo começou por conta de um desentendimento envolvendo o cachorro da esposa do agressor. Ao manobrar o carro na portaria, o porteiro teria feito o possível para não assustar o animal, que mesmo assim se soltou. Irritado, Eric invadiu a guarita e, sem dar chance de diálogo, passou a agredir Levinton com tapas no rosto e tentativa de estrangulamento.
“Ele não me ouviu, não me perguntou nada. Entrou já me batendo. Me enforcou com as duas mãos e dizia que ia me matar”, contou o porteiro, ainda visivelmente abalado, em entrevista ao Jornal da Manhã.
O vídeo das câmeras de vigilância mostra o momento em que Eric entra na guarita e desfere os golpes com brutalidade. Em nenhum momento há reação por parte da vítima, que tenta se proteger enquanto o agressor desfere tapas e pressiona seu pescoço contra a parede.
Quem é o agressor?
Eric José Silva Martins é ex-soldado da PM-BA. Ele foi expulso da corporação em 2022, após uma série de ausências injustificadas, sendo classificado como “desertor”. Desde então, acumulou registros de comportamentos hostis no condomínio, inclusive a destruição de uma câmera de segurança. Mesmo assim, continuava residindo no local com sua esposa.
O histórico violento já era de conhecimento de alguns moradores. Segundo relatos, episódios de intimidação e ameaças verbais já haviam ocorrido com outros funcionários, mas sem consequências práticas.
A resposta institucional
A administração do condomínio emitiu nota de apoio a Levinton e informou que está tomando providências legais para resguardar seus colaboradores. Além disso, abriu um processo interno para rescindir o contrato de locação do imóvel da família de Eric.
A Polícia Civil investiga o caso como lesão corporal dolosa, e o inquérito corre na 6ª Delegacia Territorial de Brotas. A Polícia Militar, por sua vez, se pronunciou apenas para confirmar que Eric foi desligado da corporação há dois anos e não tem mais vínculo com a instituição.
Segurança privada sob ameaça
O caso expõe uma realidade muitas vezes invisibilizada: o assédio e a violência contra trabalhadores terceirizados em condomínios residenciais. Porteiros, vigilantes e zeladores frequentemente são alvos de abusos de poder, humilhações e até agressões físicas, geralmente silenciadas por medo de retaliações.
“Infelizmente, essa não é uma situação isolada. Há uma cultura tóxica em muitos condomínios, onde moradores acreditam que podem tudo sobre os funcionários. Isso precisa mudar”, afirma a advogada trabalhista e pesquisadora Juliana Meirelles.
E agora?
Levinton recebeu apoio de colegas e moradores, mas teme represálias. Ele se afastou do trabalho e deve passar por acompanhamento psicológico. Já Eric Martins poderá responder judicialmente e, caso condenado, poderá cumprir pena de até três anos por agressão, agravada por ter ocorrido em ambiente de trabalho.
O episódio também reacende o debate sobre políticas de proteção ao trabalhador em espaços privados, que seguem com pouca regulamentação e fiscalização.
O que este caso nos ensina?
Condomínios devem revisar seus protocolos de segurança e atendimento às vítimas.
Empresas terceirizadas precisam oferecer suporte jurídico e psicológico aos funcionários.
A sociedade deve romper o silêncio sobre o assédio institucionalizado em ambientes domésticos e empresariais.
Enquanto isso, Levinton espera justiça: “Só quero que isso não aconteça com mais ninguém. Eu estava trabalhando.”

