Quando a água falha e a Embasa escorrega, a indignação transborda na Bahia
A Embasa, responsável pelo abastecimento de água e saneamento em boa parte da Bahia, está no centro de uma crescente insatisfação popular. A estatal, que deveria garantir um serviço básico e contínuo, acumula falhas operacionais, explosão de queixas e prejuízos bilionários com desperdício. A paciência do consumidor, assim como a água, tem escorrido pelo ralo.
Nos primeiros dez dias de 2025, o Procon-BA registrou 43 reclamações formais contra a Embasa, uma média alarmante para o início do ano. Os relatos se repetem: torneiras secas por semanas, bairros inteiros desassistidos e promessas não cumpridas. Em localidades como Barra do Jacuípe, Monte Gordo e Praia do Forte, houve registros de até 23 dias sem água, forçando moradores e turistas a recorrerem a caminhões-pipa ou cisternas improvisadas.
Interior também reage: Ilhéus notifica estatal
Não é só na capital e no litoral que os problemas aparecem. Em fevereiro, a Prefeitura de Ilhéus notificou oficialmente a Embasa após interrupções de abastecimento no bairro Pacheco. A gestão municipal exigiu respostas detalhadas em até 48 horas, denunciando o descaso com a população e os impactos negativos no turismo local — em plena alta temporada.
Enquanto isso, comunidades do interior e do litoral convivem com o improviso, enfrentando escassez em meio ao calor extremo. A sensação é de abandono generalizado.
Tarifas pesadas, perdas gigantescas
O que mais revolta os consumidores é o contraste entre o valor da conta e a qualidade do serviço. A Embasa cobra uma das tarifas mais altas do Nordeste, mesmo com uma ineficiência alarmante: 45% da água tratada se perde no sistema, conforme dados técnicos. Isso equivale, diariamente, a mais de 150 piscinas olímpicas desperdiçadas — apenas em Salvador.
Em 2024, a Embasa liderou o ranking de reclamações do Procon estadual, com 2.160 queixas registradas. Um crescimento expressivo que levanta questionamentos sobre a governança da empresa.
Diante da pressão popular, a Prefeitura de Salvador iniciou estudos para criar uma agência reguladora própria, com o objetivo de fiscalizar e regular os serviços prestados pela estatal. O governo do estado, por sua vez, considera a proposta inconstitucional.
Canais entupidos de indignação
O descontentamento se espalha pelas redes sociais. Em grupos online, moradores relatam sua rotina com humor ácido e frustração evidente. “Calor da mizera e não consigo tomar um banho”, escreveu um usuário de Salvador. Outro resumiu a indignação: “Nada pra lavar o rabo tbm, tá foda.”
Apesar das piadas, o problema é sério. Para milhares de famílias, a falta de água não é uma inconveniência: é uma violação do direito à dignidade.
Resposta tímida diante do caos
A Embasa tem reconhecido o aumento das reclamações e afirma que houve melhora de 40% no índice de resolução dos casos “fundamentados” em 2024. Também assinou um termo de compromisso com o Procon para agilizar o atendimento por meio de sistema eletrônico. No entanto, tais medidas ainda não refletem uma mudança perceptível na ponta do serviço.
A distância entre o discurso institucional e a realidade enfrentada pelos consumidores amplia o desgaste da imagem da empresa, que há anos ocupa espaço vital na infraestrutura pública da Bahia.
O que está em jogo
Problema | Situação Atual |
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Escassez de água | Bairros com até 23 dias sem abastecimento |
Queixas formais | 2.160 em 2024; 43 nos primeiros dias de 2025 |
Perdas no sistema | 45% da água produzida se perde |
Tarifas | Entre as mais altas do país |
Fiscalização | Debate sobre criação de agência reguladora local |
Resposta institucional | Termo com Procon, mas sem efeito prático imediato |
Conclusão
A Embasa está no centro de uma crise que exige mais do que pronunciamentos e notas técnicas. Os problemas são antigos, mas se agravaram nos últimos anos, revelando um sistema deficiente, mal fiscalizado e sem respostas eficazes. A população clama por uma virada de chave: menos discurso, mais água. E, sobretudo, mais respeito.

